quarta-feira, 2 de abril de 2014

Melancolia

Oh doce luz! oh lua!
Que luz suave a tua,
E como se insinua
Em alma que flutua
De engano em desengano!
   Oh criação sublime!
A tua luz reprime
As tentações do crime,
E à dor que nos oprime
Abres-lhe um oceano!

É esse céu um lago,
E tu, reflexo vago
Dum sol, como o que eu trago
No seio, onde o afago,
No seio, onde o aperto?
   Oh luz orfã do dia!
Que mística harmonia
Há nessa luz tão fria,
E a sombra que me guia
Neste areal deserto!

Embora as nuvens trajem
De dia outra roupagem,
O sol, de que és imagem,
Não tem essa linguagem
Que encanta, que namora!
   Fita-te a gente, estuda,
(Sem medo que se iluda)
Essa linguagem muda...
O teu olhar ajuda...
E a gente sente e chora!

Ah! sempre que descrevas
A órbita que levas,
Confia-me o que escrevas
De quanto vês nas trevas,
Que a luz do sol encobre!
   As vítimas, que escutas,
De traças mais astutas
Que as dessas feras brutas...
E as lástimas, as lutas
Da orfã e do pobre!

João de Deus

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